sábado, 14 de setembro de 2013
EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ 14 Setembro
Nota Histórica
Foi
na Cruz que Jesus Cristo ofereceu ao Pai o Seu Sacrifício, em expiação dos
pecados de todos os homens. Por isso, é justo que veneremos o sinal e o
instrumento da nossa libertação.
Objecto
de desprezo, patíbulo de infâmia, até ao momento em que Jesus «obediente até à
morte» nela foi suspenso, a Cruz tornou-se, desde então, motivo de glória, pólo
de atracção para todos os homens.
Ao
celebrarmos esta festa, nós queremos proclamar que é da cruz, «sinal do amor
universal de Deus, fonte de toda a graça» (N.A., 4) que deriva toda a vida de
Igreja. Queremos também manifestar o nosso desejo de colaborar com Cristo na
salvação dos homens, aceitando a Cruz, que a carne e o mundo fizeram pesar
sobre nós (G.S. 38).
Liturgia das horas
Dos Sermões de Santo André de Creta, bispo (Sermão 10,
na Exaltação da Santa Cruz:
PG 97, 1018-1019.1022-1023) (Séc. VIII)
PG 97, 1018-1019.1022-1023) (Séc. VIII)
A cruz é a glória e a exaltação de Cristo
Celebramos a
festa da santa cruz, que dissipou as trevas e nos restituiu a luz. Celebramos a
festa da santa cruz, e juntamente com o Crucificado somos elevados para o alto,
para que, deixando a terra do pecado, alcancemos os bens celestes. Tão grande é
o valor da cruz, que quem a possui, possui um tesouro. E chamo a justamente
tesouro, porque é na verdade, de nome e de facto, o mais precioso de todos os
bens. Nela está a plenitude da nossa salvação e por ela regressamos à dignidade
original.
Com efeito,
sem a cruz, Cristo não teria sido crucificado. Sem a cruz, a Vida não teria
sido cravada no madeiro. E se a Vida não tivesse sido crucificada, não teriam
brotado do seu lado aquelas fontes de imortalidade, o sangue e a água, que
purificam o mundo; não teria sido rasgada a sentença de condenação escrita pelo
nosso pecado, não teríamos alcançado a liberdade, não poderíamos saborear o
fruto da árvore da vida, não estaria aberto para nós o Paraíso. Sem a cruz, não
teria sido vencida a morte, nem espoliado o inferno.
Verdadeiramente grande e preciosa realidade é a santa
cruz! Grande, porque é a origem de bens inumeráveis, tanto mais excelentes
quanto maior é o mérito que lhes advém dos milagres e dos sofrimentos de
Cristo. Preciosa, porque a cruz é simultaneamente o patíbulo e o troféu de
Deus: o patíbulo, porque nela sofreu a morte voluntariamente; e o troféu,
porque nela foi mortalmente ferido o demónio, e com ele foi vencida a morte. E
deste modo, destruídas as portas do inferno, a cruz converteu se em fonte de
salvação para todo o mundo.
A cruz é a glória de Cristo e a exaltação de Cristo. A
cruz é o cálice precioso da paixão de Cristo, é a síntese de tudo quanto Ele
sofreu por nós. Para te convenceres de que a cruz é a glória de Cristo, ouve o
que Ele mesmo diz: Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus foi
glorificado n’Ele e em breve O glorificará. E também: Glorifica me, ó Pai, com
a glória que tinha junto de Ti, antes de o mundo existir. E noutra passagem:
Pai, glorifica o teu nome. Veio então uma voz do Céu: ‘Eu O glorifiquei e de
novo O glorificarei’.
E para saberes que a cruz é também a exaltação de
Cristo, escuta o que Ele próprio diz: Quando Eu for exaltado, então atrairei
todos a Mim. Como vês, a cruz é a glória e a exaltação de Cristo.
sábado, 7 de setembro de 2013
Nomeações Pastorais para a Diocese do Funchal
Constituindo missão própria do Bispo a importante e difícil tarefa de assegurar a assistência espiritual e religiosa das comunidades cristãs e o seu dinamismo evangelizador, Sua Ex.cia Rev.ma D. António Carrilho, Bispo do Funchal, procedeu às seguintes dispensas e nomeações pastorais:
1. Cónego José Fiel de Sousa – Reitor da Igreja do Colégio, sendo dispensado de Pároco de São Pedro.
2. Cónego João Francisco Dias – Pároco de São Pedro, sendo dispensado de Pároco de São Martinho.
3. Padre Marcos Paulo Abreu Pinto, a convite da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, é autorizado a prestar assistência religiosa aos emigrantes, como Capelão da Missão Católica Portuguesa, na Diocese de Westminster, em Londres, por um período de três anos. É, por isso, dispensado das funções de Pároco da Nazaré e demais responsabilidades que lhe estavam confiadas, no âmbito da pastoral Diocesana.
4. Padre Marcos Fernandes Gonçalves – Pároco de São Martinho e da Nazaré, sendo dispensado de Reitor da Igreja do Colégio.
5. Padre Pedro Filipe de Góis Nóbrega – Vigário Paroquial de São Martinho e da Nazaré.
6. Padre Luís Miguel Delgado Pedreiro – Pároco de Santo António da Serra, Bom Caminho e João Ferino, mantendo-se Pároco de Água de Pena. Dispensado de Pároco da Assomada.
7. Padre Paulo Sérgio Cunha da Silva – Pároco da Assomada, mantendo-se Pároco da Achada. Dispensado de Vigário Paroquial de Santa Cruz.
8. Padre Vítor Apolinar Abreu Gonçalves – Pároco de São Vicente, mantendo-se membro da Equipa Formadora do Seminário. Dispensado de Vigário Paroquial de São Pedro.
9. Padre Élio de Freitas Gomes – Pároco de Ponta Delgada, mantendo-se Pároco de Boaventura e Fajã do Penedo.
10. Padre Giselo Alberto Vieira Andrade – Director do Secretariado das Comunicações Sociais, mantendo-se Pároco do Monte. Dispensado da Equipa Formadora do Seminário.
11. Padre Rui Daniel Fernandes da Silva – Membro da Equipa Formadora do Seminário, mantendo as responsabilidades já assumidas no Pré-Seminário. Dispensado da sua colaboração pastoral na Paróquia da Nazaré.
12. Padre Manuel Fernando Ribeiro (scj) – dispensado das funções de Pároco da Serra de Água.
13. Padre Isildo Gomes da Silva (scj) – Pároco de Serra de Água, conforme proposta do Superior Provincial dos Sacerdotes do Coração de Jesus.
Os sacerdotes, cujas nomeações se publicam, conservam as faculdades canónicas dos respectivos ministérios, até à tomada de posse dos seus sucessores. E, se nada for dito expressamente em contrário, mantêm também os outros ofícios que lhes estão confiados por anteriores nomeações.
A tomada de posse dos novos párocos far-se-á, sob a presidência do Bispo Diocesano ou seu Delegado, em datas a anunciar oportunamente.
A Diocese agradece a disponibilidade e o espírito de serviço eclesial dos sacerdotes agora nomeados e a atitude de fé, confiança e cooperação das comunidades que deles se despedem ou os acolhem.
Secretaria Episcopal do Funchal, 07 de Setembro de 2013
sábado, 10 de agosto de 2013
sábado, 13 de julho de 2013
sábado, 6 de julho de 2013
sábado, 22 de junho de 2013
sábado, 15 de junho de 2013
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Homilia do Sr. D. Jorge Ortiga na celebração dos 499 anos da fundação da Diocese do Funchal
A BARCA DA FÉ
1.
Experiência Humana
Conta-se
que era uma vez uma nota musical que disse: “Não é uma nota que faz a música”,
e, por consequência, já não houve música. Depois uma palavra disse: “Não é uma
palavra que faz um livro”, e aconteceu que já não houve livro. Em seguida, uma
pedra disse: “Não é uma pedra que faz uma casa”, e aconteceu que já não houve
casa. Depois, uma gota de água disse: “Não é uma simples gota de água que faz um
rio”, e aconteceu que o rio secou. Olhando para isto, o homem aproveitou e
disse também: “Oh, não é um gesto de amor que poderá salvar a humanidade.” E o
que é que aconteceu? Começou a surgir à sua volta um ambiente de injustiça,
violência e egoísmo.
2.
Liturgia da Palavra
Posto isto, Jesus no
evangelho de hoje apresenta-nos as condições necessárias para a prática de
simples gestos alternativos, que podem marcar a diferença. Mais do que uma aula de engenharia
civil, Jesus serve-se de uma imagem do quotidiano para explicar aos seus
discípulos as bases da casa da nossa fé.
Por isso, com
realismo e honestidade, não queiramos correr o risco do homem insensato, que
construiu a casa sobre a areia. Jesus apresenta-nos o melhor seguro contra
todos os riscos: a obediência à Palavra. Um seguro que resiste às chuvas dos
preconceitos e do legalismo, às torrentes do conformismo e da corrupção, e aos
ventos da mediocridade e do egoísmo.
3.
Reflexão teológica
E
Tal como afirma o documento Verbum Domini nos n.º 90-120, é desta obediência à
Palavra de Deus que deriva: toda a missão da Igreja, o anúncio do Reino de
Deus, a nova-evangelização, o testemunho cristão, a promoção da justiça, a
defesa dos direitos humanos, a paz entre os povos, a caridade activa, as
implicações vocacionais, a compreensão do sofrimento, a pobreza a escolher ou a
combater, a defesa da natureza (ecologia), o reconhecimento do valor e
importância da cultura, o uso correto dos meios de comunicação, o valor do
diálogo inter-religioso e a necessidade vital da liberdade religiosa.
Deste modo, o Papa
Bento XVI institui este Ano da Fé, não só para celebrar o jubileu do Concílio
Vaticano II, mas também para redescobrirmos os alicerces da casa da nossa fé,
fazendo com que esta produza frutos. Aliás, gostaria de recordar as palavras da
sua homilia no Terreiro do Paço, em Lisboa, aquando da sua visita a Portugal,
em 2010: “Glorioso é o lugar conquistado por Portugal entre as nações pelo
serviço prestado à dilatação da fé: nas cinco partes do mundo, há Igrejas
locais que tiveram origem na missionação portuguesa.”
4.
Aniversário da Diocese do Funchal
Sem
dúvida que o arquipélago da Madeira veio a tornar-se uma plataforma estratégica
da expansão ibérica entre o mundo conhecido e o mundo ainda desconhecido, e a
Diocese do Funchal, por inerência, tornou-se também numa ponte estratégica de
evangelização entre a Europa cristã e as religiões/religiosidades do resto do
mundo.
Celebrar
os 499 anos da fundação desta diocese, que fora a maior do mundo na época, é
fazer memória dos milhares de missionários que por aqui passaram e desejar esse
glorioso ardor missionário, de modo a comunicar Jesus Cristo aos milhares de
turistas que por aqui passam e edificar “comunidades cristãs, vivas e
apostólicas”, como determina o programa do vosso triénio pastoral. Sabemos como
é importante a missão na vida da Igreja e como o mundo espera de nós, cristãos,
um contributo diferente para a edificação da sociedade.
A propósito, é
interessante notar como o programa Erasmus das universidades europeias tem
transportado inúmeros alunos pela Europa, e, a título de exemplo, como as
ideias destes alunos ocidentais acabaram por derrubar recentemente a
islamização política da Turquia. Do mesmo modo, podem crer que com a fé
acontece o mesmo: além de mover montanhas, ela também é capaz de decifrar a
prece que o nosso silêncio esconde, de nos segurar com o fio da esperança e de
transformar silenciosamente a vinha do mundo.
Muitas vezes somos
questionados sobre o que a Igreja deve ou pode fazer para mudar a sociedade. Há
muitos planos estratégicos, mas sem o contributo de cada um, que por vezes até
pode parecer insignificante, isso nunca acontecerá! Daí que me atreva a
pedir-vos uma redescoberta da verdadeira identidade cristã, a nível pessoal e
comunitário. Não são precisos grandiosos projectos para mudar a sociedade, basta
que a vida de cada um e das comunidades se transformem em fidelidade ao
Espírito! E a aposta inicial é o caminho da caridade activa, como nos sugere o
Papa Francisco.
Para
terminar, diz-nos o poeta Fernando Pessoa que “todo e qualquer gesto é um ato
revolucionário”. Portanto, e ao contrário da história inicial, não nos
esqueçamos que há pequenos gestos de amor que podem criar um ambiente sadio à
nossa volta, que podem dar testemunho da nossa fé, e mais do que isso: que
podem restituir à ilha da Madeira a ousadia missionária que já teve no passado,
não permitindo que a barca da fé fique estacionada no porto marítimo!
+ Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz
Funchal, 12 de Junho de 2013.
segunda-feira, 10 de junho de 2013
FALECEU O PADRE JOSÉ PATROCINIO RODRIGUES ALVES
O Padre JOSÉ PATROCÍNIO RODRIGUES
ALVES, sacerdote diocesano da Diocese do Funchal, faleceu hoje, dia 09 de
Junho, no Hospital Dr. Nélio Mendonça. Tinha 68 anos de idade, e era natural da
freguesia e concelho de Santa Cruz. Nasceu no dia 11 de Maio de 1945, era filho
de José Alves e de Maria da Graça.
Foi ordenado Sacerdote, no dia 04 de Junho de 1972.
Dentro dos serviços eclesiásticos que desempenhou, na Diocese do Funchal,
destacamos os seguintes:
- Coadjutor da Paróquia de Machico, a 27 de Setembro de 1971.
- Coadjutor das Paróquias de Ponta Delgada e Arco de S. Jorge, a 13 de
Outubro de 1973.
- Pároco das Paróquias de São João e São Paulo, a 8 de Outubro de 1974
.
- Pároco da Paróquia do Curral das Freiras, a 07 de Outubro de 1983.
- Administrador Paroquial das Paróquias do Porto da Cruz e São Roque do
Faial, a 30 de Setembro de 1989.
- Pároco da Paróquia de Santo António da Serra, a 01 de Junho de 1990.
A sua vida dedicada ao serviço do Evangelho e também ao Ensino deixou um
testemunho de pastor e de fidelidade à Igreja. Que o Senhor o receba na Sua
Paz!
O seu funeral será dia 10 de Junho,
segunda-feira, Dia do Santo Anjo de Portugal, com missa presidida pelo Senhor
Bispo do Funchal, D. António Carrilho, às 15h00 horas, na Igreja Paroquial de
Santa Cruz, seguida de funeral para o Cemitério de Santa Cruz.
Secretaria Episcopal
09 de Junho 2013
Dai-lhe, Senhor, o eterno descanso, entre os esplendores da luz perpétua.
Descanse em paz. Ámen.
terça-feira, 4 de junho de 2013
sábado, 25 de maio de 2013
domingo, 12 de maio de 2013
Breve mensagem de D. António Carrilho, Bispo do Funchal, para ser lida nas missas dos dias 11 e 12 de Maio de 2013, nas comunidades cristãs de São Vicente e Ponta Delgada
Irmãos e amigos
Estais reunidos para
celebrar a Eucaristia Dominical, sacramento da fé, da união e da caridade, como
em tantos outros sábados e domingos. Saúdo-vos a todos, com muita amizade,
desejando que a paz e a força de Deus estejam nos vossos corações!
Comungo convosco e com o
vosso pároco o sofrimento desta hora e destes últimos dias, marcados pelas
notícias do processo judicial que o envolve.
Muitos de vós e dos nossos
diocesanos gostariam de ter tido, de imediato, uma palavra do vosso Bispo.
Ponderei, no entanto, ser mais correto aguardar o decorrer do processo,
respeitando todos os seus intervenientes e os trâmites legais que dele
decorrem, esperando com serenidade a sua conclusão. Não foi, pois, um silêncio
de alheamento, mas de responsabilidade, da parte de quem deve ponderar e
resolver os problemas.
Mais uma vez vos digo que
estou convosco e vos acompanho, tomando as necessárias e oportunas decisões,
quanto à proteção do vosso pároco, como muitos têm pedido, e quanto ao futuro
apoio pastoral às comunidades cristãs de São Vicente e Ponta Delgada.
Unido, na caridade de
Cristo, aos vossos sentimentos e anseios, e em profundo espirito de comunhão
eclesial, por todos rezo e a todos concedo a Bênção do Senhor.
Funchal, 11 de Maio de 2013
† António Carrilho, Bispo do Funchal
sábado, 20 de abril de 2013
sábado, 13 de abril de 2013
sábado, 6 de abril de 2013
segunda-feira, 1 de abril de 2013
quarta-feira, 27 de março de 2013
sábado, 23 de março de 2013
segunda-feira, 18 de março de 2013
sábado, 16 de março de 2013
quarta-feira, 13 de março de 2013
sexta-feira, 8 de março de 2013
Das Cartas de São João de Deus, religioso
Cristo é fiel e tudo provê
Se consideramos atentamente a misericórdia de Deus, nunca deixaremos de fazer o bem de que formos capazes: com efeito, se damos aos pobres por amor de Deus aquilo que Ele próprio nos dá, Ele promete-nos o cêntuplo na felicidade eterna. Feliz pagamento, ditoso lucro! Quem não dará a este bendito mercador tudo o que possui, se Ele procura o nosso interesse e, com os braços abertos, insistentemente pede que nos convertamos a Ele, que choremos os nossos pecados e tenhamos caridade para com as nossas almas e para com o próximo? Porque assim como o fogo apaga a água, assim a caridade apaga o pecado.
Se consideramos atentamente a misericórdia de Deus, nunca deixaremos de fazer o bem de que formos capazes: com efeito, se damos aos pobres por amor de Deus aquilo que Ele próprio nos dá, Ele promete-nos o cêntuplo na felicidade eterna. Feliz pagamento, ditoso lucro! Quem não dará a este bendito mercador tudo o que possui, se Ele procura o nosso interesse e, com os braços abertos, insistentemente pede que nos convertamos a Ele, que choremos os nossos pecados e tenhamos caridade para com as nossas almas e para com o próximo? Porque assim como o fogo apaga a água, assim a caridade apaga o pecado.
Vêm aqui tantos pobres, que até eu me
espanto como é possível sustentar a todos; mas Jesus Cristo a tudo provê e a
todos alimenta. Vêm muitos pobres à casa de Deus, porque a cidade de Granada é
muito fria, e mais agora que estamos no Inverno. Entre todos – doentes e sãos,
gente de serviço e peregrinos – há aqui mais de cento e dez pessoas. Como esta
casa é geral, recebe doentes de todos os géneros e condições: tolhidos, mancos,
leprosos, mudos, dementes, paralíticos, tinhosos, alguns já muito velhos e
outros muito crianças ainda, e por cima disto muitos peregrinos e viajantes,
que cá chegam e aqui encontram lume, água, sal e vasilhas para cozinhar os
alimentos. E para tudo isto não se recebe renda especial, mas Cristo a tudo
provê.
Desta maneira estou aqui muito empenhado e prisioneiro por amor de Jesus Cristo. Vendo-me tão carregado de dívidas que já mal me atrevo a sair de casa, e vendo tantos pobres, irmãos e próximos meus, sofrerem para além das suas forças e serem oprimidos por tantos infortúnios no corpo ou na alma, sinto profunda tristeza por não poder socorrê-los, mas confio em Cristo, que conhece o meu coração. Por isso digo: maldito o homem que confia nos homens e não em Cristo somente; porque dos homens hás-de ser separado, queiras ou não queiras; mas Cristo é fiel e permanece para sempre, Cristo tudo provê. A Ele se dêem graças para sempre. Amen.
Desta maneira estou aqui muito empenhado e prisioneiro por amor de Jesus Cristo. Vendo-me tão carregado de dívidas que já mal me atrevo a sair de casa, e vendo tantos pobres, irmãos e próximos meus, sofrerem para além das suas forças e serem oprimidos por tantos infortúnios no corpo ou na alma, sinto profunda tristeza por não poder socorrê-los, mas confio em Cristo, que conhece o meu coração. Por isso digo: maldito o homem que confia nos homens e não em Cristo somente; porque dos homens hás-de ser separado, queiras ou não queiras; mas Cristo é fiel e permanece para sempre, Cristo tudo provê. A Ele se dêem graças para sempre. Amen.
(Arq. Geral Ord. Hospit., Caderno: De las cartas..., ff.º 23v-24r; 27rv: O. Marcos, Cartas y escritos de Nuestro Glorioso Padre San Juan de Dios, Madrid, 1935, pp. 18-19; 48-50) (Sec. XVI)
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
sábado, 23 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Coragem e fragilidades da renúncia do Papa
Adriano Moreira afirma que a resignação de Bento XVI é uma “decisão corajosa” e sinal de que “não foi capaz” nem sentia em condições de “vir adquirir a autoridade” de que precisava.
Em declarações ao programa 70x7 deste domingo, o professor universitário refere que a decisão do Papa tem implícita uma “recomendação evidentíssima”: “escolham alguém que tenha o carisma de onde decorra o poder suficiente para que acabem os pecados que atingem a Igreja”.
“O carisma ou se obtém ou não se obtém. O Papa a escolher deve ser um homem em que a Igreja reconheça a capacidade de ganhar o carisma que a leve aceitar a correção dos desvios e das preocupações que o Papa resignatário enunciou”, sublinha.
Em causa a alusão a “rivalidades e individualismos” que Bento XVI referiu durante a homilia da missa de quarta-feira de cinzas (dia em que inicia o tempo da Quaresma) a que Adriano Moreira acrescenta um “etc enorme”.
“São públicas as constantes conspirações e ambições internas, desastres financeiros e de comunicação, falta de confiança entre o pessoal”, recorda.
Para Adriano Moreira, o pontificado de Bento XVI fica marcado pelas “dificuldades tremendas” que a Igreja teve de enfrentar, “designadamente a pedofilia”, tendo como líder um académico a observar um “ataque devastador em relação à Igreja em muitos países”.
“Para um intelectual como ele deve ter sido um sacrifício não ter conseguido um governo tão difícil, único no mundo, de líderes religiosos: são líderes por fidelidade. Não há, como num estado, o recurso à força para a desobediência”, observa.
“Imagino a dor com que ele meditou sobre as suas capacidades de homem vivo. Mas não se pode ter mais anos e não ter mais nada”, diz o membro da Academia das Ciências de Lisboa.
Adriano Moreira espera que Bento XVI deixe a Igreja Católica “em meditação” e “que o Espírito Santo inspire a escolha de um Papa que não tenha de dar um exemplo que é também uma espécie de repreensão”.
Para o professor universitário, a resignação do Papa ajuda “a recuperar uma face exemplar da Igreja, que ponha fim aos ataques de que é objeto e que diminuiu a sua influência num trajeto que é fundamental para a salvação do Ocidente: a recuperação da escala de valores”.
Adriano Moreira sustenta que a última fase do pontificado de João Paulo II e de Bento XVI não se podem comparar, porque “cada ser humano não se repete na história da humanidade” e “não se pode esperar o mesmo comportamento e legado” de cada sucessor de Pedro.
Dos papas que lhe são contemporâneos, Adriano Moreira recorda “inspiração” de João XIII, a emoção e o “exemplo de sacrifício” de João Paulo II e a “erudição” de Bento XVI, deixando-nos o exemplo da “capacidade de renunciar”.
Adriano Moreira analisa o pontificado de Bento XVI e a decisão de renúncia que o Papa tomou no programa 70x7 deste domingo, em antena na RTP2 pelas 11h30.
Lisboa, 16 fev 2013 (Ecclesia) -
sábado, 16 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
Comunicação do Santo Padre
Caríssimos
Irmãos,
Convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três
canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância
para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha
consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à
idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério
petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência
espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também
e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas
mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para
governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o
vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi
diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade
para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem
consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao
ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela
mão dos Cardeais em 19 de abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e
deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição
do novo Sumo Pontífice.
Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por
todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e
peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à
solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria,
sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais
na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no
futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a
Santa Igreja de Deus.
Vaticano, 10 de fevereiro de 2013
sábado, 9 de fevereiro de 2013
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
Hino de Vésperas
Cinco chagas, cinco fontes.
Com água de vida eterna,
Onde as almas sequiosas
Podem matar sua sede!
Depois de ressuscitar,
Guardou Cristo estes sinais
Do combate glorioso
Em que venceu o inimigo;
Para que as chagas visíveis
Mostrassem às gerações
A ferida invisível
Do amor mais forte que a morte:
Chagas puras e santíssimas
Que o nosso povo venera
E que na sua bandeira
São penhor da salvação.
Pelas chagas de seu Filho,
Louvado seja Deus Pai
E o Espírito divino
Agora e sempre adoremos.
Terço das Chagas
O Senhor, ao manifestar-Se à Irmã Maria Marta Chambon, do Mosteiro da
Visitação de Santa Maria Chambery, falecida em odor de santidade em 21 de Março
de 1909, encarregou-a de invocar constantemente as Suas Chagas e de avivar esta
devoção no mundo. Para este fim, revelou-lhe com palavras vivas os tesouros que
encerram essas feridas abertas na Sua Carne imaculada. "O meu Pai
compraz-Se na oferta das minhas Sagradas Chagas. Oferecer as minhas Chagas ao
Pai Eterno é oferecer-Lhe a Sua Glória, é oferecer o Céu ao Céu. As minhas
Santas Chagas sustêm o mundo. Concederei tudo o que Me pedirem pela invocação
às Santas Chagas.
Obtereis tudo,
porque é o mérito do meu Sangue, que é de um preço infinito. As minhas Chagas
repararão as vossas. Das minhas Chagas saem frutos de Santidade. Quando tendes
algum desgosto, algum sofrimento, deveis colocá-lo logo nas minhas
Chagas."
MODO DE REZAR
Abertura:
- Deus, vinde em nosso auxílio.
Senhor, socorrei-nos e salvai-nos!
Glória…
Oração inicial:
- Ó Jesus, Divino Redentor, sede misericordioso para connosco e para com o mundo inteiro. Ámen.
- Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro. Ámen.
- Graça e misericórdia, meu Jesus, durante os perigos presentes. Cobri-nos com o Vosso
Sangue Precioso.
Ámen.
- Pai Eterno, misericórdia, pelo Sangue de Jesus Cristo, Vosso Único Filho: Tende misericórdia de nós, nós Vo-lo suplicamos. Ámen, Ámen, Ámen.
NAS CONTAS GRANDES DO TERÇO (Em lugar do Pai Nosso):
- Pai Eterno, eu Vos ofereço as Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo, para curar as Chagas das nossas almas.
NAS CONTAS PEQUENAS DO TERÇO (Em lugar da Avé Maria):
- Meu Jesus, perdão e misericórdia pelos méritos das Vossas Santas Chagas!
NO FIM:
Recita-se três vezes a jaculatória:
- Pai Eterno, eu Vos ofereço as Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo, para curar as chagas das nossas almas.
(300 dias de indulgência por cada vez. S.S. Pio XI, 16 de Janeiro de 1924).
Festa das Cinco Chagas do Senhor
Das Homilias de São João
Crisóstomo, bispo sobre o Evangelho de São João
(Hom. 87, 1: PG 59, 473-474)
(Sec. IV)
Cristo manifesta-Se com as suas chagas após a ressurreição
Se é pueril acreditar ao acaso e sem motivo, também é muito insensato querer examinar e inquirir tudo demasiadamente. E esta foi a sem-razão de Tomé. Perante a afirmação dos Apóstolos: Vimos o Senhor, recusa-se a acreditar: não porque descresse deles, mas porque julgava impossível o que afirmavam, isto é, a ressurreição de entre os mortos. Não disse: «Duvido do vosso testemunho», mas: Se não meter a minha mão no seu lado, não acreditarei.
Jesus aparece segunda vez e
não espera que Tomé O interrogue, ou Lhe fale como aos discípulos. O Mestre
antecipa-se aos seus desejos, fazendo-lhe compreender que estava presente
quando falou daquele modo aos companheiros. Na censura que lhe faz serve-Se das
mesmas palavras e ensina como deverá proceder para o futuro.
Depois de dizer: Põe aqui o
teu dedo e vê as minhas mãos; mete a tua mão no meu lado, acrescenta: Não sejas
incrédulo, mas crente. Tomé duvidou por falta de fé. Ainda não tinham recebido
o Espírito Santo. Mas isso não voltaria a acontecer; a partir de então manter-se-iam
firmes na fé. Cristo, porém, não Se ficou nesta admoestação e insistiu
novamente. Tendo o discípulo caído em si e exclamado: Meu Senhor e meu Deus,
disse-lhe Jesus: Porque Me viste, acreditaste. Felizes os que, sem terem visto,
acreditaram.
É próprio da fé crer no que não se vê. A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das que não se vêem. Com efeito, o divino Mestre chama felizes, não só os discípulos, mas também todos aqueles que no decurso dos tempos acreditarão n’Ele. Dirás talvez: Mas na verdade, os discípulos viram e creram. É certo; no entanto, não precisaram de ver para acreditarem. Sem quaisquer exigências, bastou-lhes ver o sudário para logo aceitarem o acto da ressurreição e acreditarem plenamente, antes mesmo de verem o corpo glorioso de Jesus. Portanto, se alguém disser: «Quem dera ter vivido no tempo de Jesus e contemplado os seus milagres», recorde as palavras: Felizes os que, sem terem visto, acreditaram.
É próprio da fé crer no que não se vê. A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das que não se vêem. Com efeito, o divino Mestre chama felizes, não só os discípulos, mas também todos aqueles que no decurso dos tempos acreditarão n’Ele. Dirás talvez: Mas na verdade, os discípulos viram e creram. É certo; no entanto, não precisaram de ver para acreditarem. Sem quaisquer exigências, bastou-lhes ver o sudário para logo aceitarem o acto da ressurreição e acreditarem plenamente, antes mesmo de verem o corpo glorioso de Jesus. Portanto, se alguém disser: «Quem dera ter vivido no tempo de Jesus e contemplado os seus milagres», recorde as palavras: Felizes os que, sem terem visto, acreditaram.
E aqui surge uma pergunta:
Como pôde o corpo incorruptível conservar as cicatrizes dos cravos e ser tocado
por mão mortal? Não é caso para espanto, pois se trata de pura condescendência
da parte de Cristo. O seu corpo era tão puro, subtil e livre de qualquer
matéria, que podia entrar numa casa com as portas fechadas. Quis, porém,
manifestar-Se deste modo, para que acreditassem na ressurreição e soubessem que
era Ele mesmo que fora crucificado, e não outro, quem tinha ressuscitado. Por
este motivo conserva, na ressurreição, os estigmas da cruz, e come na presença
dos Apóstolos, circunstância esta que eles especialmente recordariam: Nós que
comemos e bebemos com Ele. Quer dizer: Antes da paixão, ao vermos Jesus
caminhando sobre as ondas, não considerávamos o seu corpo de natureza diferente
da nossa; também agora, ao vê-l’O com as cicatrizes, após a ressurreição,
devemos crer na sua incorruptibilidade.
sábado, 2 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Mensagem de Bento XVI para a Quaresma de 2013
Crer na caridade suscita caridade
Papa Bento XVI |
«Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16)
Queridos irmãos e irmãs!
A celebração da Quaresma, no contexto do Ano da fé, proporciona-nos uma preciosa
ocasião para meditar sobre a relação entre fé e caridade: entre o crer em Deus,
no Deus de Jesus Cristo, e o amor, que é fruto da acção do Espírito Santo e nos
guia por um caminho de dedicação a Deus e aos outros.
1. A fé como resposta ao amor de Deus
Na minha primeira Encíclica, deixei já alguns elementos que permitem
individuar a estreita ligação entre estas duas virtudes teologais: a fé e a
caridade. Partindo duma afirmação fundamental do apóstolo João: «Nós conhecemos
o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16), recordava que, «no início do
ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com
um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta
forma, o rumo decisivo. (...) Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10), agora o amor já não é apenas
um “mandamento”, mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso
encontro» (Deus caritas est, 1). A fé constitui aquela adesão
pessoal – que engloba todas as nossas faculdades - à revelação do amor gratuito
e «apaixonado» que Deus tem por nós e que se manifesta plenamente em Jesus
Cristo. O encontro com Deus Amor envolve não só o coração, mas também o
intelecto: «O reconhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim da
nossa vontade à d’Ele une intelecto, vontade e sentimento no ato globalizante
do amor. Mas isto é um processo que permanece continuamente a caminho: o amor
nunca está "concluído" e completado» (ibid., 17). Daqui deriva, para todos os
cristãos e em particular para os «agentes da caridade», a necessidade da fé,
daquele «encontro com Deus em Cristo que suscite neles o amor e abra o seu
íntimo ao outro, de tal modo que, para eles, o amor do próximo já não seja um
mandamento por assim dizer imposto de fora, mas uma consequência resultante da
sua fé que se torna operativa pelo amor» (ibid., 31). O cristão é uma pessoa
conquistada pelo amor de Cristo e, movido por este amor - «caritas Christi
urget nos» (2 Cor 5, 14) -, está aberto de modo
profundo e concreto ao amor do próximo (cf. ibid., 33). Esta atitude nasce, antes de
tudo, da consciência de ser amados, perdoados e mesmo servidos pelo Senhor, que
Se inclina para lavar os pés dos Apóstolos e Se oferece a Si mesmo na cruz para
atrair a humanidade ao amor de Deus.
«A fé mostra-nos o Deus que entregou o seu Filho por nós e assim gera em
nós a certeza vitoriosa de que isto é mesmo verdade: Deus é amor! (...) A fé,
que toma consciência do amor de Deus revelado no coração trespassado de Jesus
na cruz, suscita por sua vez o amor. Aquele amor divino é a luz –
fundamentalmente, a única - que ilumina incessantemente um mundo às escuras e
nos dá a coragem de viver e agir» (ibid., 39). Tudo isto nos faz
compreender como o procedimento principal que distingue os cristãos é
precisamente «o amor fundado sobre a fé e por ela plasmado» (ibid., 7).
2. A caridade como vida na fé
Toda a vida cristã consiste em responder ao amor de Deus. A primeira
resposta é precisamente a fé como acolhimento, cheio de admiração e gratidão,
de uma iniciativa divina inaudita que nos precede e solicita; e o «sim» da fé
assinala o início de uma luminosa história de amizade com o Senhor, que enche e
dá sentido pleno a toda a nossa vida. Mas Deus não se contenta com o nosso acolhimento
do seu amor gratuito; não Se limita a amar-nos, mas quer atrair-nos a Si,
transformar-nos de modo tão profundo que nos leve a dizer, como São Paulo: Já
não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim (cf. Gl 2, 20). Quando damos espaço ao
amor de Deus, tornamo-nos semelhantes a Ele, participantes da sua própria
caridade.
Abrirmo-nos ao seu amor significa deixar que Ele viva em nós e nos leve a
amar com Ele, n'Ele e como Ele; só então a nossa fé se torna verdadeiramente
uma «fé que actua pelo amor» (Gl 5,6) e Ele vem habitar em nós (cf. 1 Jo 4, 12). A fé é conhecer a
verdade e aderir a ela (cf. 1 Tm 2, 4); a caridade é «caminhar» na
verdade (cf. Ef 4, 15). Pela fé, entra-se na amizade
com o Senhor; pela caridade, vive-se e cultiva-se esta amizade (cf. Jo 15, 14-15).
A fé faz-nos acolher o mandamento do nosso Mestre e Senhor; a caridade
dá-nos a felicidade de pô-lo em prática (cf. Jo 13, 13-17). Na fé, somos gerados
como filhos de Deus (cf. Jo 1, 12-13); a caridade faz-nos
perseverar na filiação divina de modo concreto, produzindo o fruto do Espírito
Santo (cf. Gl 5, 22). A fé faz-nos reconhecer os
dons que o Deus bom e generoso nos confia; a caridade fá-los frutificar (cf. Mt 25, 14-30).
3. O entrelaçamento indissolúvel de fé e caridade
À luz de quanto foi dito, torna-se claro que nunca podemos separar e menos
ainda contrapor fé e caridade. Estas duas virtudes teologais estão intimamente
unidas, e seria errado ver entre elas um contraste ou uma «dialética». Na
realidade, se, por um lado, é redutiva a posição de quem acentua de tal maneira
o carácter prioritário e decisivo da fé que acaba por subestimar ou quase
desprezar as obras concretas da caridade reduzindo-a a um genérico
humanitarismo, por outro é igualmente redutivo defender uma exagerada supremacia
da caridade e sua operatividade, pensando que as obras substituem a fé. Para
uma vida espiritual sã, é necessário evitar tanto o fideísmo como o activismo
moralista.
A existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com
Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e a força que daí derivam, para
servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus. Na Sagrada
Escritura, vemos como o zelo dos Apóstolos pelo anúncio do Evangelho, que
suscita a fé, está estreitamente ligado com a amorosa solicitude pelo serviço
dos pobres (cf. At 6, 1-4). Na Igreja, devem coexistir
e integrar-se contemplação e ação, de certa forma simbolizadas nas figuras
evangélicas das irmãs Maria e Marta (cf. Lc 10, 38-42). A prioridade cabe sempre
à relação com Deus, e a verdadeira partilha evangélica deve radicar-se na fé
(cf. Catequese na Audiência geral de 25 de Abril de 2012). De facto,
por vezes tende-se a circunscrever a palavra «caridade» à solidariedade ou à
mera ajuda humanitária; é importante recordar, ao invés, que a maior obra de
caridade é precisamente a evangelização, ou seja, o «serviço da Palavra».
Não há acção mais benéfica e, por conseguinte, caritativa com o próximo do que
repartir-lhe o pão da Palavra de Deus, fazê-lo participante da Boa Nova do Evangelho,
introduzi-lo no relacionamento com Deus: a evangelização é a promoção mais alta
e integral da pessoa humana. Como escreveu o Servo de Deus Papa Paulo VI, na
Encíclica Populorum progressio, o anúncio de Cristo é o primeiro e
principal factor de desenvolvimento (cf. n. 16). A verdade primordial do amor de
Deus por nós, vivida e anunciada, é que abre a nossa existência ao acolhimento
deste amor e torna possível o desenvolvimento integral da humanidade e de cada
homem (cf. Enc. Caritas in veritate, 8).
Essencialmente, tudo parte do Amor e tende para o Amor. O amor gratuito de
Deus é-nos dado a conhecer por meio do anúncio do Evangelho. Se o acolhermos
com fé, recebemos aquele primeiro e indispensável contacto com o divino que é
capaz de nos fazer «enamorar do Amor», para depois habitar e crescer neste Amor
e comunicá-lo com alegria aos outros.
A propósito da relação entre fé e obras de caridade, há um texto na Carta
de São Paulo aos Efésios que a resume talvez do melhor modo: «É
pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de
Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque nós fomos feitos
por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas acções que
Deus de antemão preparou para nelas caminharmos» (2, 8-10).
Daqui se deduz que toda a iniciativa salvífica vem de Deus, da sua graça,
do seu perdão acolhido na fé; mas tal iniciativa, longe de limitar a nossa
liberdade e responsabilidade, torna-as mais autênticas e orienta-as para as
obras da caridade. Estas não são fruto principalmente do esforço humano, de que
vangloriar-se, mas nascem da própria fé, brotam da graça que Deus oferece em
abundância. Uma fé sem obras é como uma árvore sem frutos: estas duas virtudes
implicam-se mutuamente. A Quaresma, com as indicações que dá tradicionalmente
para a vida cristã, convida-nos precisamente a alimentar a fé com uma escuta
mais atenta e prolongada da Palavra de Deus e a participação nos Sacramentos e,
ao mesmo tempo, a crescer na caridade, no amor a Deus e ao próximo,
nomeadamente através do jejum, da penitência e da esmola.
4. Prioridade da fé, primazia da caridade
Como todo o dom de Deus, a fé e a caridade remetem para a acção do mesmo e
único Espírito Santo (cf. 1 Cor 13), aquele Espírito que em nós
clama:«Abbá! – Pai!» (Gl 4, 6), e que nos faz dizer: «Jesus é
Senhor!» (1 Cor 12, 3) e «Maranatha! – Vem, Senhor!» (1 Cor 16, 22; Ap 22, 20).
Enquanto dom e resposta, a fé faz-nos conhecer a verdade de Cristo como
Amor encarnado e crucificado, adesão plena e perfeita à vontade do Pai e
infinita misericórdia divina para com o próximo; a fé radica no coração e na
mente a firme convicção de que precisamente este Amor é a única realidade
vitoriosa sobre o mal e a morte. A fé convida-nos a olhar o futuro com a
virtude da esperança, na expectativa confiante de que a vitória do amor de
Cristo chegue à sua plenitude. Por sua vez, a caridade faz-nos entrar no amor
de Deus manifestado em Cristo, faz-nos aderir de modo pessoal e existencial à
doação total e sem reservas de Jesus ao Pai e aos irmãos. Infundindo em nós a
caridade, o Espírito Santo torna-nos participantes da dedicação própria de
Jesus: filial em relação a Deus e fraterna em relação a cada ser humano (cf. Rm 5, 5).
A relação entre estas duas virtudes é análoga à que existe entre dois
sacramentos fundamentais da Igreja: o Baptismo e a Eucaristia. O Baptismo (sacramentum
fidei) precede a
Eucaristia (sacramentum caritatis), mas está orientado para ela, que
constitui a plenitude do caminho cristão. De maneira análoga, a fé precede a
caridade, mas só se revela genuína se for coroada por ela. Tudo inicia do
acolhimento humilde da fé («saber-se amado por Deus»), mas deve chegar à
verdade da caridade («saber amar a Deus e ao próximo»), que permanece para
sempre, como coroamento de todas as virtudes (cf. 1 Cor13, 13).
Caríssimos irmãos e irmãs, neste tempo de Quaresma, em que nos preparamos
para celebrar o evento da Cruz e da Ressurreição, no qual o Amor de Deus
redimiu o mundo e iluminou a história, desejo a todos vós que vivais este tempo
precioso reavivando a fé em Jesus Cristo, para entrar no seu próprio circuito
de amor ao Pai e a cada irmão e irmã que encontramos na nossa vida. Por isto
elevo a minha oração a Deus, enquanto invoco sobre cada um e sobre cada
comunidade a Bênção do Senhor!
Vaticano, 15 de Outubro de 2012
Benedictus PP. XVI]
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