Das Homilias de São João
Crisóstomo, bispo sobre o Evangelho de São João
(Hom. 87, 1: PG 59, 473-474)
(Sec. IV)
Cristo manifesta-Se com as suas chagas após a ressurreição
Se é pueril acreditar ao acaso e sem motivo, também é muito insensato querer examinar e inquirir tudo demasiadamente. E esta foi a sem-razão de Tomé. Perante a afirmação dos Apóstolos: Vimos o Senhor, recusa-se a acreditar: não porque descresse deles, mas porque julgava impossível o que afirmavam, isto é, a ressurreição de entre os mortos. Não disse: «Duvido do vosso testemunho», mas: Se não meter a minha mão no seu lado, não acreditarei.
Jesus aparece segunda vez e
não espera que Tomé O interrogue, ou Lhe fale como aos discípulos. O Mestre
antecipa-se aos seus desejos, fazendo-lhe compreender que estava presente
quando falou daquele modo aos companheiros. Na censura que lhe faz serve-Se das
mesmas palavras e ensina como deverá proceder para o futuro.
Depois de dizer: Põe aqui o
teu dedo e vê as minhas mãos; mete a tua mão no meu lado, acrescenta: Não sejas
incrédulo, mas crente. Tomé duvidou por falta de fé. Ainda não tinham recebido
o Espírito Santo. Mas isso não voltaria a acontecer; a partir de então manter-se-iam
firmes na fé. Cristo, porém, não Se ficou nesta admoestação e insistiu
novamente. Tendo o discípulo caído em si e exclamado: Meu Senhor e meu Deus,
disse-lhe Jesus: Porque Me viste, acreditaste. Felizes os que, sem terem visto,
acreditaram.
É próprio da fé crer no que não se vê. A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das que não se vêem. Com efeito, o divino Mestre chama felizes, não só os discípulos, mas também todos aqueles que no decurso dos tempos acreditarão n’Ele. Dirás talvez: Mas na verdade, os discípulos viram e creram. É certo; no entanto, não precisaram de ver para acreditarem. Sem quaisquer exigências, bastou-lhes ver o sudário para logo aceitarem o acto da ressurreição e acreditarem plenamente, antes mesmo de verem o corpo glorioso de Jesus. Portanto, se alguém disser: «Quem dera ter vivido no tempo de Jesus e contemplado os seus milagres», recorde as palavras: Felizes os que, sem terem visto, acreditaram.
É próprio da fé crer no que não se vê. A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das que não se vêem. Com efeito, o divino Mestre chama felizes, não só os discípulos, mas também todos aqueles que no decurso dos tempos acreditarão n’Ele. Dirás talvez: Mas na verdade, os discípulos viram e creram. É certo; no entanto, não precisaram de ver para acreditarem. Sem quaisquer exigências, bastou-lhes ver o sudário para logo aceitarem o acto da ressurreição e acreditarem plenamente, antes mesmo de verem o corpo glorioso de Jesus. Portanto, se alguém disser: «Quem dera ter vivido no tempo de Jesus e contemplado os seus milagres», recorde as palavras: Felizes os que, sem terem visto, acreditaram.
E aqui surge uma pergunta:
Como pôde o corpo incorruptível conservar as cicatrizes dos cravos e ser tocado
por mão mortal? Não é caso para espanto, pois se trata de pura condescendência
da parte de Cristo. O seu corpo era tão puro, subtil e livre de qualquer
matéria, que podia entrar numa casa com as portas fechadas. Quis, porém,
manifestar-Se deste modo, para que acreditassem na ressurreição e soubessem que
era Ele mesmo que fora crucificado, e não outro, quem tinha ressuscitado. Por
este motivo conserva, na ressurreição, os estigmas da cruz, e come na presença
dos Apóstolos, circunstância esta que eles especialmente recordariam: Nós que
comemos e bebemos com Ele. Quer dizer: Antes da paixão, ao vermos Jesus
caminhando sobre as ondas, não considerávamos o seu corpo de natureza diferente
da nossa; também agora, ao vê-l’O com as cicatrizes, após a ressurreição,
devemos crer na sua incorruptibilidade.