domingo, 17 de fevereiro de 2013

Coragem e fragilidades da renúncia do Papa

Adriano Moreira afirma que a resignação de Bento XVI é uma “decisão corajosa” e sinal de que “não foi capaz” nem sentia em condições de “vir adquirir a autoridade” de que precisava. Em declarações ao programa 70x7 deste domingo, o professor universitário refere que a decisão do Papa tem implícita uma “recomendação evidentíssima”: “escolham alguém que tenha o carisma de onde decorra o poder suficiente para que acabem os pecados que atingem a Igreja”. “O carisma ou se obtém ou não se obtém. O Papa a escolher deve ser um homem em que a Igreja reconheça a capacidade de ganhar o carisma que a leve aceitar a correção dos desvios e das preocupações que o Papa resignatário enunciou”, sublinha. Em causa a alusão a “rivalidades e individualismos” que Bento XVI referiu durante a homilia da missa de quarta-feira de cinzas (dia em que inicia o tempo da Quaresma) a que Adriano Moreira acrescenta um “etc enorme”. “São públicas as constantes conspirações e ambições internas, desastres financeiros e de comunicação, falta de confiança entre o pessoal”, recorda. Para Adriano Moreira, o pontificado de Bento XVI fica marcado pelas “dificuldades tremendas” que a Igreja teve de enfrentar, “designadamente a pedofilia”, tendo como líder um académico a observar um “ataque devastador em relação à Igreja em muitos países”. “Para um intelectual como ele deve ter sido um sacrifício não ter conseguido um governo tão difícil, único no mundo, de líderes religiosos: são líderes por fidelidade. Não há, como num estado, o recurso à força para a desobediência”, observa. “Imagino a dor com que ele meditou sobre as suas capacidades de homem vivo. Mas não se pode ter mais anos e não ter mais nada”, diz o membro da Academia das Ciências de Lisboa. Adriano Moreira espera que Bento XVI deixe a Igreja Católica “em meditação” e “que o Espírito Santo inspire a escolha de um Papa que não tenha de dar um exemplo que é também uma espécie de repreensão”. Para o professor universitário, a resignação do Papa ajuda “a recuperar uma face exemplar da Igreja, que ponha fim aos ataques de que é objeto e que diminuiu a sua influência num trajeto que é fundamental para a salvação do Ocidente: a recuperação da escala de valores”. Adriano Moreira sustenta que a última fase do pontificado de João Paulo II e de Bento XVI não se podem comparar, porque “cada ser humano não se repete na história da humanidade” e “não se pode esperar o mesmo comportamento e legado” de cada sucessor de Pedro. Dos papas que lhe são contemporâneos, Adriano Moreira recorda “inspiração” de João XIII, a emoção e o “exemplo de sacrifício” de João Paulo II e a “erudição” de Bento XVI, deixando-nos o exemplo da “capacidade de renunciar”. Adriano Moreira analisa o pontificado de Bento XVI e a decisão de renúncia que o Papa tomou no programa 70x7 deste domingo, em antena na RTP2 pelas 11h30.

Lisboa, 16 fev 2013 (Ecclesia) -