Sta. Teresinha aos 15 anos |
Não obstante a minha pequenez, quereria iluminar
as almas como os Profetas, os Doutores, sentia a vocação de ser Apóstolo...
Queria ser missionário, não apenas durante alguns anos mas queria tê lo sido
desde o princípio do mundo e continuar até à consumação dos séculos. Mas acima
de tudo, ó meu amado Salvador, quereria derramar o sangue por Vós até à última
gota.
Porque durante a oração estes
desejos me faziam sofrer um autêntico martírio, abri as epístolas de São Paulo
a fim de encontrar uma resposta. Casualmente fixei me nos capítulos XII e XIII
da primeira epístola aos Coríntios; e li no primeiro que nem todos podem ser ao
mesmo tempo Apóstolos, Profetas, Doutores, etc. que a Igreja é formada por
membros diferentes e que os olhos não podem ao mesmo tempo ser as mãos. A
resposta era clara, mas não satisfazia completamente os meus desejos e não me
trazia a paz.
Continuei a ler e encontrei
esta frase que me confortou profundamente: Procurai com ardor os dons mais
perfeitos; eu vou mostrar vos um caminho mais excelente. E o Apóstolo explica
como todos os dons mais perfeitos não são nada sem o amor e que a caridade é o
caminho mais excelente que nos leva com segurança até Deus. Finalmente tinha
encontrado a tranquilidade.
Ao considerar o Corpo Místico
da Igreja, não conseguira reconhecer me em nenhum dos membros descritos por São
Paulo; melhor, queria identificar me com todos eles. A caridade ofereceu me a
chave da minha vocação. Compreendi que, se a Igreja apresenta um corpo formado
por membros diferentes, não lhe falta o mais necessário e mais nobre de todos;
compreendi que a Igreja tem coração, um coração ardente de amor; compreendi que
só o amor fazia actuar os membros da Igreja e que, se o amor viesse a extinguir
se, nem os Apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho nem os mártires a
derramar o seu sangue; compreendi que o amor encerra em si todas as vocações,
que o amor é tudo e que abrange todos os tempos e lugares, numa palavra, que o
amor é eterno.
Então, com a maior alegria da
minha alma arrebatada, exclamei: Ó Jesus, meu amor! Encontrei finalmente a
minha vocação. A minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja,
e este lugar, ó meu Deus, fostes Vós que mo destes: no coração da Igreja, minha
Mãe, eu serei o amor; com o amor serei tudo; e assim será realizado o meu sonho.
Da autobiografia de Santa Teresa do Menino Jesus
(Manuscritos autobiográficos, Lisieux 1957, 227-229) (Séc. XIX)