sábado, 22 de setembro de 2012
sexta-feira, 21 de setembro de 2012
OS NÚMEROS E AS PESSOAS
1.
Em 17 do corrente mês de Setembro, o Conselho Permanente da Conferência
Episcopal Portuguesa publicou uma Nota sobre a "Missão da Igreja num país
em crise". A Comissão Nacional Justiça e Paz deseja, antes do mais,
sublinhar a relevância desse texto, que reflecte a voz autorizada e oportuna da
Igreja Portuguesa sobre a situação do país.
2.
O início do novo ano de actividades ocorreu sob o peso esmagador das notícias da
5ª avaliação da Troika, e suas repercussões sobre a economia e as
condições de vida dos portugueses. De modo geral, as medidas anunciadas
situam-se à sombra dos compromissos assumidos pelo país junto das instituições
credoras, com a agravante de tudo apontar para um ano de 2013 mais austero,
contrariamente aos anúncios anteriores do Governo. A tónica de crítica
generalizada dos comentários transmitidos pelos media é inédita,
expressiva e preocupante.
3.
Não é intenção da Comissão Nacional Justiça e Paz participar, com este comunicado,
no debate sobre aspectos económicos e financeiros discutíveis da situação. A
Comissão reconhece a importância da análise quantitativa, sobretudo quando
reflecte ou denúncia aspectos humanos ou sociais, e por isso mesmo não
desvalorizam os efeitos positivos que podem advir da revisão dos défices
públicos a respeitar em 2012, 2013 e 2014, bem como a decisão do BCE
respeitante ao financiamento das dívidas soberanas.
4.
Pelo que respeita às notícias veiculadas pelo Governo quanto à 5ª avaliação da Troika,
a primeira nota que ressalta é a de um discurso determinista e fatalista, do
«caminho único» e do «não há outra via», quando o mais verdadeiro e humilde
seria o de dizer «eu não conheço outro caminho», ou «eu não sou capaz de seguir
outra orientação». E note-se que algumas das vias alternativas foram fechadas
pelo próprio Governo, através da total aceitação dos ditames da Troika,
com pública declaração de concordância. Só aqui, reconhecendo aos credores o
direito de ditar, em nome de uma «credibilidade externa», amputou o país de uns
quantos graus de liberdade. Esqueceu-se que os credores não são um grupo
qualquer de agiotas, mas instituições internacionais de que Portugal é membro,
com deveres e direitos. Pelo menos neste contexto, seria exigível um comportamento
civilizado, justo e solidário entre todas as partes.
Em
segundo lugar, o Governo tentou perceber a situação do país sem nada exigir da Europa.
Quando tantas vozes nacionais e internacionais autorizadas reclamavam uma
atitude adequada por parte da Europa, tudo quanto vimos foi um gesto de
submissão aos governantes de países mais poderosos, que bem depressa esqueceram
a sua própria história no contexto europeu da segunda metade do século XX, e
não perderiam em investigar sobre os verdadeiros ganhadores da União Europeia e
da Zona Euro, desde que uma e outra existem. Aliás, respeitados ex-dirigentes
daqueles países têm dado sinais claros de crítica à linha política dominante.
Em terceiro lugar, o Governo mostra-se crente num pensamento
económico que o falhanço do défice orçamental do corrente ano deveria, no
mínimo, levar a considerar como discutível. Porque se insiste em continuar a
aplicá-lo, como base, no orçamento de Estado para 2013? As profundas alterações
das previsões para 2013 deveriam ser mais do que suficientes para considerar
seriamente outros rumos possíveis.
Em quarto lugar, o Governo nunca foi capaz de
demonstrar que os sacrifícios exigidos aos portugueses estavam distribuídos
com equidade. Apesar de frases sonantes nesse sentido, a política pública
não tem combatido eficazmente as disparidades na distribuição do rendimento e
outras formas de desigualdade na sociedade portuguesa, havendo mesmo indícios
de agravamento destas desigualdades nos últimos anos. Só agora se ouviu o
anúncio de que seriam sujeitos a impostos novos alguns tipos de bens e de
rendimentos de capital. O contraste entre o pormenor das medidas que atingem os
rendimentos do trabalho e o carácter vago e brando de algumas que irão afectar,
no futuro, a riqueza e os rendimentos de capital é significativo.
O
desnível das condições de vida sofrido pelas pessoas e famílias por
força da crise e das políticas públicas revela um quadro socioeconómico
gritantemente desigual. Enquanto a uns falta pão, casa, água e luz, outros mantêm
um nível de vida praticamente igual, se não mais elevado, do que aqueles que
tinham antes da crise. Está aqui um critério fundamental de equidade: não
basta proporcionalidade no que se retira (por via fiscal ou outra);
também é preciso que exista equidade no que resta depois disso
(rendimento disponível). Esta é a medida em que as pessoas e as famílias são
afectadas pela crise e medidas conexas. Isto aplica-se não apenas aos
rendimentos do capital, mas também a certos estratos de rendimentos do
trabalho, como são os de alguns dirigentes de empresas.
Em
quinto lugar, as medidas destinadas a acorrer ao desemprego — "o
maior flagelo social do país", nas palavras do Ministro de Estado e das
Finanças — serão pouco eficazes perante a gravidade do problema. As reacções de
espanto dos responsáveis governamentais e dos membros da Troika face ao
agravamento deste fenómeno denotam uma preocupante desadequação do seu
pensamento económico à realidade económica do país. Exige-se de quem governa,
agora como sempre, mais atenção à realidade e menos enfeudamento a ideias
pré-concebidas.
Sexto,
os apoiantes do Governo têm tentado ilustrar o «sucesso» da governação
explicando que os objectivos da despesa foram conseguidos e só os da receita
não, argumentando que só os primeiros dependem do Governo e os últimos não. A
CNJP sente a obrigação de denunciar a desonestidade intelectual desta
argumentação. Seria grave que o Governo abandonasse o êxito das medidas
destinadas a aumentar as receitas públicas ao simples acaso. O mesmo se diga,
se bem que por razões diversas, da declaração de um membro da Troika, no
sentido de que o programa a que o país está sujeito é um programa do Governo
português, como se a Troika não tivesse tido imposições.
Sétimo, verifica-se que o Estado de Direito vai-se
enfraquecendo: a garantia dos direitos dos cidadãos vai-se fragilizando,
nomeadamente no que se refere à parte contratual contributiva da Segurança
Social (valor das pensões da reforma, por exemplo), e ao valor dos salários
contratados. As alterações das condições contratuais por decisão unilateral
prejudicam o sentimento de estabilidade e segurança que qualquer Estado de
Direito deve garantir aos cidadãos.
Oitavo,
ao afirmar que "Até agora protegemos o nosso modo de vida, em geral, e, em
particular, os mais pobres, mais vulneráveis e mais desfavorecidos destes
riscos catastróficos (de bancarrota) ", o Governo revela desconhecer a
realidade do país. Ocorre perguntar a que país se referia o Ministro da
Finanças quando pronunciou aquelas palavras. Bastará interrogar os serviços
sociais, públicos e privados, para concluir que "o nosso modo de vida, em
geral, e, em particular, os mais pobres, mais vulneráveis e mais
desfavorecidos" está desprotegido. As instituições de solidariedade,
nomeadamente as relacionadas com a Igreja Católica, vêm testemunhando essa
situação de desprotecção e o seu persistente agravamento
A
CNJP tem consciência de que a política anunciada para 2013 carece ainda de
discussão e aprovação, designadamente na Concertação Social, na Assembleia da
República e pelo Presidente da República, e, eventualmente, pelo exame do
Tribunal Constitucional. A CNJP espera que ao longo do processo se possam
modificar os aspectos mais gravosos do quadro apresentado.
5.
A preocupação da CNJP é, antes mais, de natureza ética. Por isso, não pode
subestimar as graves responsabilidades dos poderes públicos, de modo particular
no que respeita à equidade e aos direitos básicos de subsistência e emprego.
Mas não deve ignorar, igualmente, que as responsabilidades de cada um, cidadão
e cidadã, de cada grupo e de cada empresa não se restringem apenas ao que seja
exigido pelo Estado. Numa situação tão grave como esta, que muitos portugueses
e portuguesas atravessam, impõe-se que, para além do que se situa no âmbito da
competência dos poderes públicos, cada um responda positivamente à sua própria
consciência, em matéria de justiça e de solidariedade. A gravidade da situação
reclama urgência na acção, mas, como sublinham os nossos Bispos, importa
reconhecer que "A superação da crise supõe [também] uma renovação
cultural". Tal renovação requer uma revisitação de alguns valores
fundamentais, geralmente reconhecidos pela nossa sociedade, mas cuja densidade
se foi perdendo com o passar do tempo: a dignidade da pessoa humana, enquanto
ser individual e social; o reconhecimento de que a liberdade exige as condições
existenciais para o seu exercício; o sentido do bem comum como dimensão
indispensável da realização pessoal. Pelo que respeita, em particular, aos
cristãos, lembramos o exemplo de Jesus Cristo, que "veio, não para ser
servido, mas para servir" (Mt. 20, 28).
Lisboa,
19 de Setembro de 2012
COMISSÃO NACIONAL JUSTIÇA E PAZ
Festa SSS
Neste fim de semana a Paróquia do Porto Moniz celebrará a Solenidade do Santissimo Sacramento.
A Missa Vespertina será no Sábado pelas 20h30. A Missa Solene será no Domingo pelas 15h00, seguida de Procissão
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
terça-feira, 18 de setembro de 2012
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