“"Tu és bom e generoso
no perdão" (Ant. de entrada). Contemplamos hoje na glória
do Senhor outro Pontífice, João
XXIII, o Papa que conquistou o mundo pela afabilidade dos seus
modos, dos quais transparecia a singular bondade de ânimo. Os desígnios divinos
quiseram que a beatificação unisse dois Papas que viveram em contextos
históricos muito diferentes, mas relacionados, além das aparências, por não
poucas semelhanças a nível humano e espiritual. É conhecida a profunda veneração que o Papa João tinha
pelo Papa Pio IX, do qual desejava a beatificação. Durante um
retiro espiritual, em 1959, escrevia no seu Diário: "Penso sempre em
Pio IX de santa e gloriosa memória, e imitando-o nos seus sacrifícios,
desejaria ser digno de celebrar a sua canonização" (Jornal da Alma, Ed. S. Paulo,
2000, p. 560).
Do Papa João permanece na
memória de todos a imagem de um rosto sorridente e de dois braços abertos num
abraço ao mundo inteiro. Quantas pessoas foram conquistadas pela simplicidade do seu ânimo, conjugada
com uma ampla experiência de homens e de coisas! A rajada de novidade dada por ele
não se referia decerto à doutrina, mas ao modo de a expor; era novo o estilo de
falar e de agir, era nova a carga de simpatia com que se dirigia às pessoas
comuns e aos poderosos da terra. Foi com este espírito que proclamou o Concílio Vaticano II, com o
qual iniciou uma nova página na história da Igreja: os cristãos
sentiram-se chamados a anunciar o Evangelho com renovada coragem e com uma
atenção mais vigilante aos "sinais" dos tempos. O Concílio foi
deveras uma intuição profética deste idoso Pontífice que inaugurou, no meio de
não poucas dificuldades, uma nova era de esperança para os cristãos e para a
humanidade.
Nos últimos momentos da sua existência terrena,
ele confiou à Igreja o seu testamento: "O que tem mais valor na vida
é Jesus Cristo bendito, a sua Santa Igreja, o seu Evangelho, a verdade e a
bondade". Também nós hoje queremos receber este testamento, enquanto damos
graças a Deus por no-lo ter dado como Pastor.”