Ingressou no Seminário de
Bérgamo, onde estudou até ao segundo ano de teologia. Ali começou a redigir os
seus escritos espirituais, que depois foram recolhidos no "Diário da
alma". No dia 1 de Março de 1896, o seu director espiritual admitiu-o na
ordem franciscana secular, cuja regra professou a 23 de Maio de 1897.
De 1901 a 1905 foi aluno do
Pontifício Seminário Romano, graças a uma bolsa de estudos da diocese de
Bérgamo. Neste tempo prestou, além disso, um ano de serviço militar. Recebeu a
Ordenação sacerdotal a 10 de Agosto de 1904, em Roma, e no ano seguinte foi
nomeado secretário do novo Bispo de Bérgamo, D. Giacomo Maria R. Tedeschi,
acompanhando-o nas várias visitas pastorais e colaborando em múltiplas
iniciativas apostólicas: sínodo, redacção do boletim diocesano,
peregrinações, obras sociais. Às vezes era também professor de história
eclesiástica, patrologia e apologética. Foi também Assistente da Acção Católica
Feminina, colaborador no diário católico de Bérgamo e pregador muito
solicitado, pela sua eloquência elegante, profunda e eficaz.
Naqueles anos aprofundou-se
no estudo de três grandes pastores: São Carlos Borromeu (de quem publicou
as Actas das visitas realizadas na diocese de Bérgamo em 1575), São Francisco
de Sales e o então Beato Gregório Barbarigo. Após a morte de D. Giacomo
Tedeschi, em 1914, o Pade Roncalli prosseguiu o seu ministério sacerdotal
dedicado ao magistério no Seminário e ao apostolado, sobretudo entre os membros
das associações católicas.
Em 1915, quando a Itália
entrou em guerra, foi chamado como sargento sanitário e nomeado capelão militar
dos soldados feridos que regressavam da linha de combate. No fim da guerra
abriu a "Casa do estudante" e trabalhou na pastoral dos jovens
estudantes. Em 1919 foi nomeado director espiritual do Seminário.
Em 1921 teve início a
segunda parte da sua vida, dedicada ao serviço da Santa Igreja. Tendo sido
chamado a Roma por Bento XV como presidente nacional do Conselho das Obras
Pontifícias para a Propagação da Fé, percorreu muitas dioceses da Itália
organizando círculos missionários.
Em 1925, Pio XI nomeou-o
Visitador Apostólico para a Bulgária e elevou-o à dignidade episcopal da Sede
titular de Areopolis.
Tendo recebido a Ordenação
episcopal a 19 de Março de 1925, em Roma, iniciou o seu ministério na Bulgária,
onde permaneceu até 1935. Visitou as comunidades católicas e cultivou relações
respeitosas com as demais comunidades cristãs. Actuou com grande solicitude e
caridade, aliviando os sofrimentos causados pelo terremoto de 1928. Suportou em
silêncio as incompreensões e dificuldades de um ministério marcado pela táctica
pastoral de pequenos passos. Consolidou a sua confiança em Jesus crucificado e
a sua entrega a Ele.
Em 1935 foi nomeado
Delegado Apostólico na Turquia e Grécia: era um vasto campo de trabalho.
A Igreja tinha uma presença activa em muitos âmbitos da jovem república, que se
estava a renovar e a organizar. Mons. Roncalli trabalhou com intensidade ao
serviço dos católicos e destacou-se pela sua maneira de dialogar e pelo trato
respeitoso com os ortodoxos e os muçulmanos. Quando irrompeu a segunda guerra
mundial ele encontrava-se na Grécia, que ficou devastada pelos combates.
Procurou dar notícias sobre os prisioneiros de guerra e salvou muitos judeus
com a "permissão de trânsito" fornecida pela Delegação Apostólica. Em
1944 Pio XII nomeou-o Núncio Apostólico em Paris.
Durante os últimos meses do
conflito mundial, e uma vez restabelecida a paz, ajudou os prisioneiros de
guerra e trabalhou pela normalização da vida eclesial na França. Visitou os
grandes santuários franceses e participou nas festas populares e nas
manifestações religiosas mais significativas. Foi um observador atento,
prudente e repleto de confiança nas novas iniciativas pastorais do episcopado e
do clero na França. Distinguiu-se sempre pela busca da simplicidade evangélica,
inclusive nos assuntos diplomáticos mais complexos. Procurou agir sempre como
sacerdote em todas as situações, animado por uma piedade sincera, que se
transformava todos os dias em prolongado tempo a orar e a meditar.
Em 1953 foi criado Cardeal
e enviado a Veneza como Patriarca, realizando ali um pastoreio sábio e
empreendedor e dedicando-se totalmente ao cuidado das almas, seguindo o exemplo
dos seus santos predecessores: São Lourenço Giustiniani, primeiro
Patriarca de Veneza, e São Pio X.
Depois da morte de Pio XII,
foi eleito Sumo Pontífice a 28 de Outubro de 1958 e assumiu o nome de João
XXIII. O seu pontificado, que durou menos de cinco anos, apresentou-o ao mundo
como uma autêntica imagem de bom Pastor. Manso e atento, empreendedor e
corajoso, simples e cordial, praticou cristãmente as obras de misericórdia
corporais e espirituais, visitando os encarcerados e os doentes, recebendo homens
de todas as nações e crenças e cultivando um extraordinário sentimento de
paternidade para com todos. O seu magistério foi muito apreciado, sobretudo com
as Encíclicas "Pacem in terris" e "Mater et magistra".
Convocou o Sínodo romano, instituiu uma Comissão
para a revisão do Código de Direito Canónico e convocou o Concílio Ecuménico
Vaticano II. Visitou muitas paróquias da Diocese de Roma, sobretudo as dos
bairros mais novos. O povo viu nele um reflexo da bondade de Deus e chamou-o
"o Papa da bondade". Sustentava-o um profundo espírito de oração, e a
sua pessoa, iniciadora duma grande renovação na Igreja, irradiava a paz própria
de quem confia sempre no Senhor. Faleceu na tarde do dia 3 de Junho de 1963.